LINGUA DE SINAIS DA COMUNIDADE SURDA PAITER SURUÍ
A linguagem, seja ela oral ou de sinais,
pode sofrer variações
dependendo de onde e como é utilizada, visto que ela esta profundamente ligada a cultura.
No Brasil,
temos a Libras (Língua Brasileira de Sinais) como a língua oficial
da comunidade surda, porém,
estudos nos mostram que em certas comunidades, os surdos criam a sua própria língua de
sinais como por exemplo a Cena1, que é uma língua de sinais
emergente utilizada por uma comunidade surda no estado
do Piauí.
Em Rondônia, na Comunidade Indígena Paiter Suruí2 também é possível observar essa variação linguística da língua de sinais, percebendo-se a grande influência da cultura e identidade Paiter Suruí na configuração desses sinais utilizados na comunicação dos surdos do povoado, visto que eles possuem percepções visuais únicas dentro do contexto do seu dia a dia.
Vale lembrar que é fundamental reconhecer a língua de sinais como um dos principais artefatos culturais do povo surdo, pois é ele que contribui para a construção dos diálogos entre esses indivíduos.
Entre os anos de 2016 e 2017, uma pesquisadora esteve presente nas terras indígenas Paiter Suruí3 para identificar os sinais utilizados pelos surdos da comunidade. Foi então identificado que eles possuem seu próprio sinal para representar cada elemento presente em seu meio, visto que na escola não possuem o atendimento necessário para o seu desenvolvimento cultural e profundo conhecimento sobre a Libras. Mesmo com esses impasses, eles conseguem se comunicar e interagir com todos ao seu redor, não havendo diferença ou discriminação entre eles, sendo inseridos de forma natural em todos os afazeres da comunidade.
Como o povo Paiter Suruí4 querem estar sempre preservando sua cultura e sua língua, os surdos das comunidades foram oralizados na Língua Paiter Suruí, ou seja, poucos sabem o vocabulário da Língua Portuguesa.
Na pesquisa temos alguns exemplos5 de sinais que representam palavras que estão relacionadas a realidade indígena, e é possível perceber que esses sinais são muito subjetivos, visto que dependem da visão de mundo de cada um. Devemos reconhecer que são formas diferentes de enxergar o meio em que estão inseridos e que eles demonstram aquilo que lhe faz mais sentido em relação a algo.
Referência
ALMEIDA-SILVA, Anderson; NEVINS, Andrew Ira. Observações sobre a estrutura linguística da Cena: a língua de sinais emergente da Várzea Queimada (Piauí, Brasil). Revista Linguagem & Ensino, v. 23, n. 4, p. 1029-1053, 2020.
GREGIANINI, Luciana Coladine Bernardo. MAPEANDO OS SINAIS PAITER SURUÍ NO CONTEXTO DA COMUNIDADE. 2017. 178 f. Dissertação (Mestrado)- Curso de Mestrado Acadêmico em Letras, Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho, 2017.
Cena 1
A Cena 1 é uma língua de sinais emergente.
Utilizada pelos surdos moradores da comunidade de Várzea Queimada, na cidade de Jaicós, interior do Piauí. Essa língua é utilizada por mais de 30 pessoas dessa comunidade e surgiu entre os anos de 1950, já estando na 3º geração da língua.
2Conheça o Povo Paiter Suruí em Rondônia
3 A grande maioria das aldeias Paiter Suruí está localizada na cidade de Cacoal - RO, conhecida como Terra Indígena Sete de Setembro, tendo uma expansão territorial de quase 250 mil hectares.
Antes da colonização do estado de Rondônia, os índios Paiter Suruí já habitavam a região
4. A denominação deste povo como Suruí, conforme afirma o Instituto Sócio Ambiental (ISA, 2013), é a mais conhecida e disseminada e lhes foi dada por antropólogos, quando dos primeiros contatos. Porém, o nome com o qual os próprios índios se autodenominam é Paiter, que significa na Língua Paiter Suruí “o povo verdadeiro, nós mesmos”. (GREGIANINI, 2017 apud ISA, 2013)
5
Cesto
Cocar
Água
Colorau
Tucumã
Árvore